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Sunday, July 05, 2020

A esquina com Sol

Chove forte aqui, gotas grossas que caem rugindo e embaladas pelo vento cortam a visão e banham meu corpo nu. Não há guarda chuva nem marquise, não existe casa ou fuga ou mesmo a vaga idéia do fim . Lábios tremendo e ao redor essa escuridão tão presente que tira a esperança de dentro,que corrói o tempo e me empurra pros braços da solidão.
Houveram curas, lágrimas e verdades difíceis. Nú na chuva se aprende muito sobre si mesmo, sobre os limites da angústia, sobre resiliência e resignação. As mentiras, auto ficções e falsas certezas também. Água pura e fria que retesa os músculos e clareia o pensamento. Uma vez adaptado, vou tropeçando, caindo e levantando. Não importa pra onde, se existe chegada ou quando. O que importa é me mover, lutar, realizar e resolver. O frio pode esperar, a escuridão pode esperar. Tenho mais o que fazer.
Procurei tanto pela luz que esqueci como era ela. Me esqueci do calor, do arder e dos olhos abertos podendo ver em frente. O horizonte se tornara tão sonhado que dissolvia em cores frias. Sonhar acordado só vale a pena se houver chance, senão é uma droga como outra qualquer. Era hora de empurrar, de fazer mais força, de ignorar mais ainda. Chove torrencialmente aqui e parece que a tempestade se aproxima.

Trovoa muito aqui. Mas os raios que cortam são tão brilhantes que cortam o céu e minha pele grossa. Eles queimam, assustam e me prendem ao mesmo tempo no seu pulsar. Se torna uma troca, eu terei a claridade fugaz e com ela sua imensa dor. Aceito de bom grado e sigo de braços abertos, esperando pelo fulgor. Cada queimadura é uma ferida que escondi, é o que faltou falar, assumir e entender. Crueldade seria não queimar, seria a perda da possibilidade de enxergar de novo,mesmo que por pouco. Saber onde ir enfim.

Tempestade corre aqui, se quebram as parcas casas, voam os copos e as panelas. Tudo gira de modo a me inebriar, tudo prende e tudo quebra. O caminho que estava bem ali se mostrou abismo, a montanha tão duramente conquistada ruiu, agora me vejo em pânico, gritando alto pro vazio. O vazio grita de volta em mim.  Até que começo a ver. Longe, uma rua estreita, bem cuidada, arborizada e com ares infantis. Tão linda, tão imensamente banhada de Sol, tão quente.
Vou me banhando naquele calor ainda que não possa tocá-lo , ainda que seja breve, ainda que doa muito. Olhando mais de perto é uma esquina, dobrando tranquila  pra fora de tudo,vibrando no Sol e gerando um calor. Chove muito aqui, me vejo nu e sorrindo.

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