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Thursday, July 09, 2020

O Ciúme

Aderaldo era rico, sua carteira de investimentos era vasta e diversificada e seu hábito de colecionar relógios caros era a única indulgência a que se permitia. Então veio Débora e com ela o sonho. Era linda, alegre, tinha gostos muito refinados e trazia leveza a todas as coisas na vida dele. Aderaldo entendia que sua maior riqueza era tempo, já não estava preso a nenhuma rotina de trabalho, o dinheiro era seu escravo e lhe garantia o prazer de não fazer, de não ir e de não depender de nada. O tempo era seu e de Débora.
Começou na mesa do restaurante, entre o primeiro e segundo prato, depois de uma taça e meia de um bom bordeux. Aquele cara veio na mesa falar com ela, tinha um sorriso amplo, dentes perfeitos e um olhar superior. No pulso esquerdo um rolex prateado que Aderaldo vira num catálogo exclusivo semana passada. Débora levantou, como e sua presença ali fosse um detalhe inconveniente. Se abraçaram e sorriram, olhos faíscando de alegria, vozes emocionadas e continuaram de mãos dadas enquanto Aderaldo sentia o peito arder e fingia olhar algo no celular. Ouviu ela dizer seu nome, uma duas, três vezes e continuou surdo e focado na tela de previsão do tempo. Ia vender todos os seus Rolex. Todos!

Aquele cara puxou a cadeira para que ela sentasse e os olhos dele pousaram um segundo sobre Aderaldo, ouviu a voz do cara perguntar sobre o seu relógio (um Bulgari Magsonic). Falou rápido que era um presente e que nem sabia nada sobre o tema, olhando diretamente para Débora e vendo a alegria de outrora dissolver. Ela abaixou a cabeça e trouxe a taça mais perto. Aquele cara disse "ciao" e saiu dali arrastando o ego de Aderaldo pelo chão. Débora começou a dizer "Ele é um..."quando o som da taça quebrada irrompeu pela mesa, Aderaldo ergueu automaticamente as mãos e o garçon se apressou em levar outra taça e servir enquanto ajudantes limpavam o chão. Não houve mais nenhuma palavra dita naquele jantar. 

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