Amigos que se mudam

Meu amigo é uma mala. È duro, cru e não se importa de jogar a lama no seu rosto. Tem o poder de ser seu inimigo em segundos, de pisar no seu pescoço e achar aquele pequeno detalhe que vai te deixar mais do que puto, magoado pelo resto do ano. Ainda assim, sempre foi capaz de ser fiel num nível que sempre me surpreendeu.
Ser amigo de alguém com essas qualidades sempre foi um jogo perigoso, um desafio ao meu ego frágil, uma amizade em que você tem de separar  das suas expectativas, da verdade jogada na sua cara. Ao mesmo tempo é um exercício de libertação da sua zona de conforto, descobrir que exitem outras formas de ver o mundo e que a sua nem é tão especial assim. Humildade em porções individuais.

Com esse amigo eu tive coragem de ser músico. Ensaios e o palco se tornaram uma constante, aprendi a cantar, a ser visto, perder o medo do ridículo e me tornar parte de um time. Enquanto isso vi meu amigo crescer profissionalmente, se tornar o que queria ser, receber o respeito que merecia enquanto que eu ainda me via como o adolescente tardio.

Agora ele está longe, trocou de país com sua família, foi subir outro degrau na escada e foi se tornar ainda mais respeitável, vejo as fotos desse novo momento e não consigo nem comentar, não sei mais se tenho saudade da pessoa ou dos nossos  pequenos rituais, dos papos, dos sons e das discussões. Meu amigo se mudou ,se tornou, cresceu, evoluiu. Essa percepção me deixa feliz, e também sozinho, esperando "Plush" começar a tocar.